Eu diria “Claro que não! Estou muito ocupada dando comida a Fiorentina, minha boneca.”, mas minha mãe disse “Sim, dona Helena, ela vai, sim, com todo o prazer”.
Sinceramente, o que se passa na cabeça das mães pra ficar respondendo a pergunta dos outros?!
Fui pegar o dinheiro na casa dela, mas, ela ficou tão feliz por eu ir comprar a ração pra ela, que me deu uma graninha e uma bala de maçã verde. Bom... Ate que a dona Helena não era tão má...
Desci a rua, virei a esquina, desci a outra rua e cheguei na casa de rações. Como tinha muita gente na fila, fui passear na loja. Olhei, olhei, até que ouvi um burburinho, a naquele momento soube anjos me espiavam. Segui o burburinho e encontrei um aquário com três peixes. Eram uma graça, um era laranja com uma listra vermelha, o outro era azul com uma listra laranja e o outro era vermelho com uma listra azul! Dava vontade de apertar as bochechas (Peixes têm bochecha?)!
Perguntei pro moço quanto custavam, e ele disse que estava doando. Não hesitei e lá estava eu de volta em casa com meus peixinhos e o pacote de ração. Minha mãe adorou a surpresa (Bom... na verdade ela estava vermelha e saia fumaça pelos ouvidos, mas imaginei que ela tinha comido pimenta, igual no desenho do pica pau.). Subi as escadas e os coloquei em cima da mesinha. Mas... eles tinham que ter um nome.
Pensei, pensei e não tinha nenhum que me agradava. Minha irmã sugeriu “Lana, Lara e Leco”, mas esses são muito comuns. Foi aí que ascendeu uma lâmpada no topo da minha cabeça: Macarrão, Miojo e Espaguete. Oh, ti bunitinhus!
E ficou assim. No outro dia comprei enfeites pro aquário e comida pra eles. Eu os amava tanto!
É verdade que eu tinha certos ciúmes deles, mas, isso não importa. Ficavam no meu quarto, em cima da mesinha.
Mas... todo cuidado é pouco. Na quarta feira minha priminha viria me visitar e... ô menina atentada! Ela tinha um gato e pintava o pelo dele com giz de cera, desenhava elefantes na parede e coloria a calça jeans com tinta guache. Uma vez, ela pegou uma boneca e desenhou florzinhas na perna dela! Anh... eu também fazia isso quando pequena... Ei! Qual é? Vai dizer que nunca riscou a cara de uma boneca?
“Bom, se hoje é segunda, faltam... 2 dias pra visita daquela... coisa!”, eu pensei. Eu TINHA que dar um jeito nela. Primeiro, tratei de esconder meus brinquedos. Depois, tentei pensar em um jeito de mante-la longe de mim.
A terça feira chegou e eu ainda não tinha pensado em nada. E Adivinha? Ela resolveu chegar mais cedo. Agora, sim. Eu estava frita.
Quando ela chegou, foi direto procurar por mim, no quarto. Ainda bem! Eu é que não ia brincar com ela. Minha a mãe me chamou pra secar a louça e com muita birra, fui. Minha mãe e minha tia ficaram conversando animadas, mas, alguma coisa as impediu de continuar. Estava tudo muito silencioso.
As duas se olharam juntas, parecia até que tinham combinado. Então, correram pro meu quarto. E eu, fui junto. Chegando lá, vi uma pirralhinha com a voz horrível, roupa horrível e cabelo horrível:
- Peixe! Acorda Peixe! Thais, Thais, o peixe não quer nadar! Bate nele!
Mas eu não conseguia me mexer. Não conseguia reagir à aquela cena: minha prima, com as mãos molhadas, o chão todo molhado, a tampa do aquário aberta, e o Miojo e o Espaguete boiando na água.
- Você... Você... SEU MONSTRO!
Pulei pra cima da garota e esbofeteei a cara dela. Peguei meus peixinhos com a mão e coloquei no meu copo de água limpa, mas... algo estava diferente: cadê a barbatana deles?
- AAAAAAAHH! A BARBATANA DO MIOJO! CADÊ ELA SUA VIBORA?
- Eu não fiz nada! Eu não fiz nada, Thata! Eu não arranquei a barbatana do seu peixe com a tesoura vermelha que estava lá no armário do banheiro!
Eu teria pulado em cima dela (de novo), mas minha mãe me segurou, então, eu caí. Não tinha forças pra me levantar, estava perdendo o ar, então olhei pro lado e vi uma coisinha azul... Macarrão!
Estiquei os braços e o peguei com a mão. Ele estava grudento... tinha umas bolhas do lado...
- Esse aí, Thais, não queria tomar banho, aí eu esfreguei o sabão nele e ele ficou quietinho, mas aí ele escapou da minha mão e se escondeu debaixo da cama.
- Não acredito! Você os matou! Seu monstro! Sai do meu quarto agora sua... sua... Grrr! Vão embora!
Olhei para os corpinhos sem vida, frios e imóveis e os pousei em cima da cama. Olhei por mais um instante e escorreram lagrimas dos meus olhos. Peguei a boneca dela quebrei em mil pedaços. Abri o guarda roupa e achei as caixinhas dos meus brincos. Coloquei cada um em uma caixa. Escrevi o nome deles em uma folha de papel e grudei no palito de dente pra fazer uma plaquinha. Minha letra era um relacho, mas era de coração. Juntei as três caixinhas e coloquei a plaquinha correspondente a cada um. Andei abatida pela casa. Chamei minha mãe, minha tia, minha irmã e minha prima. E as convidei para a despedida mais triste da vida delas.
Todas me acompanharam até o quintal. Cavei um bocadinho de terra e coloquei as três caixinhas lá dentro. Coloquei a terra no lugar, e ficaram todos ali, reunidos em torno não de apenas três corpos finados, mas de membros da família.
Fim
By: Thais
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Comentários
Aff, que pena, Thata... Se os peixes fossem meus, teriam sido quatro funerais naquele dia...
Thata.... tadinho dos peixinhos. Um deles era o ICTUS?
Flor sabe eu perdi uma cadelinha que eu tinha ha 11 anos e eu so tinha 15, então sei como é a dor de perder um animal de estimação, eu amo muito os meus e nem gosto de pensar.
Agora todo mundo foi no velório?
Beijos flor, vc escreve muuuito bem.
Thais, meu pai tem uns contatos com a editora moderna.... quem sabe "O diário de uma menina"?
Essa tua prima é uma garota mal caráter!Essa ai deve ter nascido com o olho junto!Garota mal caráter!
Thais,
Que história mais triste...
Foi uma punhalada no meu peito quando tua prima os matou...
Que garota mais cruel...
Li até o fim!
Sei como dói perder o que a gente gosta! Tenho historias assim tambem! Mas acho que fica melhor a sua!
Se continuar assim vou ter de comprar um livro da Thais Rios!
Beijos
Tyr!